domingo, 24 de julho de 2005

COMUNISMO Vs ABORTO

Curiosamente não deixa de me intrigar a posição do Partido Comunista Português (PC) face à lei do aborto.
Sendo o PC um dos partidos mais liberais nesta questão, não estarão eles a pôr em risco, o futuro do seu próprio partido?
Partindo da hipótese que, hoje em dia, quem menos recorre a esta prática são aqueles com menor capacidade financeira (excluo aqui as motivações de foro educacional e/ou religioso), será que esta legalização ou despenalização, ainda que dentro de alguns limites, não implica o desaparecimento de parte do futuro eleitorado do partido?
Bem vistas as coisas, qual é o nicho social de actuação do PC senão os mais desfavorecidos. Acto contínuo da despenalização do aborto, diminuem as condições favoráveis ao surgimento desta classe. Consequentemente deixa, o partido, de ter suporte popular às suas grandes reivindicações politicas, correndo o risco de definhamento, por desaparecimento do meio social alvo das suas disputas.

Neste campo a Igreja adopta um discurso muito mais coerente com o seu próprio futuro.

2 comentários:

fritzthegermandog disse...

hallo jam, wie gehts?

devo desde já mostrar a minha total concordância quanto àquuilo que se estabelece no fundo do artigo que escreveu: a questão do aborto e o chinfrim que sempre se monta à sua volta serve meramente propósitos de visibilidade mediática e de bandeira política que vai, nomeadamente, permitindo manter à tona velhas e estafadas ideologias.
Permita-me contudo, transportar a discussão para uma campo mais ideológico, retirando-a da aritemética malthusiano em que o seu artigo assenta.
para além de todo o exibicionismo de que o PC (e a esquerda em geral) faz questão de demonstrar nesta matéria "abortiva" há uma contradição de que julgo pouca gente tem dado conta.
A esquerda (diz ela!) gosta de ideológicamente se afirmar como solidária, interventiva, progressista, (eventuamente estatista) e sobretudo, por oposição à direita (esses, que são os sem coração e desprovidos de qualque escrúpulo) a esquerda, qual robin dos bosques, é monopolista quanto ao estar próxima daqueles que económica e socialmente são os mais desfavorecidos e explorados da sociedade.

Ora e é aqui que a porca começa a torcer o rabo...

Se a esquerda, de uma forma geral, se afirma como ideológicamente mais próximo daqueles mais desfavorecidos, não deveria ser precisamente ela, a esquerda, por coerência, a desenvolver todo o conjunto de mecanismos interventivos de índole estatal, no sentido de evitar que o desfavorecimento social ou económico pudesse fundamentar a prática do aborto?

ora, perplexo, o que temos nós dessa mesma esquerda numa matéria eminentemente social?

exactamente o contrário do que a própria esquerda apregoa: o mais absoluto individualismo, numa versão bárbara, sem qualquer espécie de consideração por qualquer tipo de valor, seja ele social, religioso, ou relativo à simples dignidade de cada indíviduo, e que se espelha na frase mais bacôca e acéfala que alguma vez possa ter ouvido: "aqui mando eu!" e ponto final.

JAM disse...

Uma leitura eloquente e muito interessante sobre o assunto.
De facto, uma postura um pouco a traduzir o jeito especial que o país tem para o Remedeio!