ainda a propósito de recente polémica, dois pontos: um directamente relacionado com ela, outro com ela nada tendo a ver (ver videoclips acima).
Mr. Cole, what has happened to you?
Este, o primeiro ponto directamente relacionado com a breve polémica desenvolvida no feirafranca (mas muito comentada) sobre o facto de alguém com o talento musical de Lloyd Cole andar a marcar datas de concertos na Baixa da Banheira, ou em sítios semlhantes, como a Buraca. Ora, acima está alguém que sendo contemporâneo musical de Mr. Cole soube perceber e escolher o momento artístico para o respectivo regresso. No entretanto, enquanto tal não aconteceu, viveu em exílio artístico e mediático em Londres e Los Angeles para regressar com o vigor musical que acima se atesta. Se ele um dia vier a Lisboa ou ao Porto - e seguramente nunca à Baixa da Banheira! - terei todo o gosto em comprar bilhete. O concerto apresentará seguramente algumas das coisas absolutamente fantásticas do maior quarteto da pop (The Smiths) mas não se resumirá a isso: houve outras coisas mais que entretanto Morrisey deu à luz (you are the quarrel).
irish blood, english heart.
O segundo ponto nada tem a ver com gestão de carreiras, ou com o vigor com que nos reaparecem. O segundo ponto tem a ver com o entendimento que fazemos do mundo: quando Morrisey canta "(...) I´ve been dreaming of a time when/to be english is not to be vainful/to be standing by the flag/not feeling shameful, racist or partial (...)" há algo que nos remete para recentes polémicas de que o próprio Morrisey foi protagonista, ele que sempre glorificou a preservação do que refere como "britishness" ou "englishness" (que lhe custou a acusação de pertencer à extrema-direita) por oposição a uma sede universal pelo multiculturalismo, que em alguns dos seus aspectos mais radicais, quase condena a própria ideia de identidade nacional e tudo o que de histórico e cultural nela se condensa, chegando-se ao ponto de se exigirem desculpas aos presentes, pela história dos seus antepassados.
O multiculturalismo assume-se hoje em dia como uma das vertentes quase opressivas do "politicamente correcto", o novo "framework" dentro do qual todas as cabeças terão de raciocinar. Contudo uma pergunta deve ser feita: o que é afinal, o multiculturalismo? Se por essência todo o multiculturalismo corresponderá à soma de partes, de contributos dispersos e de proviniências variadas, verdadeiramente, poderá ele ser algum dia, alguma coisa? Poderá ser ele agregador, quando corresponde simultâneamente à descaracterização de identidades? Eu francamente desconfio e talvez perceba quando Morrisey diz "Irish blood, english heart/this I´m made of/There´s no one on earth/ I´m afraid of...".
6 comentários:
Caro Fritz,
Sou fã de Lloyd Cole, mas muito antes, e sempre, serei muito mais fã de Morrissey.
E querer comparar os dois é, com o devido respeito, menorizar o imcomparável Morrissey.
Querer comparar Smiths e Lloyd Cole & The Commotions, é não ter conhecimento da história musical do anos 80, o que sei que não é o caso, ou então é uma comparação simplesmente patética e sem sentido.
Os The Smiths foram e serão sempre a banda referência da música rock, alternativa, independente, o que significa quase tudo naquela altura, da década de 80.
Como alguém escreveu, houve os Beatles na década de 60, os Sex Pistols na de 70 e os Smiths na década de 80.
Só por isso, comparar os Smiths, e consequentemente Morrissey, seja com o que for não tem qualquer sentido.
Em tempo,
Se gostava ver Morrissey, já o poderia ter feito, como eu fiz e mais algumas centenas de pessoas, no já longinquo ano de 1999, mais concretamente a 29 de Outubro, no Coliseu do Porto.
Para quem é fã como eu, um concerto inesquecível.
Caríssimo amf,
certamente que no presente post leu a referência que faço aos The Smiths "... o maior quarteto da pop...". Porque efectivamente o são, porque depois deles nenhum outro grupo os igualou no lirismo e no sentido melódico das canções e provavelmente até eles, isso também nunca chegou a acontecer. E assim sendo, a dupla Morrissey/Marr tem para mim o mesmo lugar que os inventores de tudo isto, Lennon/McCartney (embora prefira os primeiros).
Por essa razão, não poderia nunca ter comparado Morrissey a Lloyd Cole, como nunca o fiz em termos musicais. A comparação situa-se apenas ao nível da gestão de carreiras e como o amf sabe, há muitos que musicalmente não valem grande coisa (no sentido musical) mas gerem bem as respectivas carreiras (veja-se o caso de Madonna, a verdadeira mestre!)e outros a quem o talento não falta e não chegam a lado nenhum (e no meio disso há sempre os momentos favoráveis e outros que não o são). A comparação Morrissey/Cole foi apenas e exclusivamente essa e não aquela a que refere no seu comment. Morrissey é "living legend" sem que para isso tivesse que morrer novo (por overdose, ou por uma espeiral de 9mm). De resto dificilmente tal acontecerá para quem "meat is murder".
"A comparação situa-se apenas ao nível da gestão de carreiras"
disse o caríssimo Fritz.
Pois, volto a insistir, não é possível a comparação, para duas carreiras tão distintas.
Caro amf,
o que diz nos seu último comment é pressuposto naqueles outros a que dei origem. Efectivamente ambas as carreiras não se comparam. Agora por muito individualizadas que sejam (e por diferente importância musical que tenham) tal não significa que as possamos olhar de um modo crítico e tentar perceber porque é que um dá concertos na buraca e outro esgota o royal albert hall numa manhã. Os U2 seriam a mesma banda se a determinada altura da respectiva carreira, não tivessem percebido que a forma de entender e abordar a pop iria substancialmente mudar e que eles deveriam correr esse risco editando Achtung Baby, secundarizando na produção Brian Eno e apostando em Flood? A madonna ter-se-ia aguentado tanto tempo se também ela não tivesse percebido a necessidade dessa diferente abordagem durante a carreira, e encetasse colaborações com a Björk?
Quando não existe essa maleabilidade há que aguardar por uma melhor maré, e foi isso que Morrissey fez, quando percebeu no horizonte o revivalismo punk, ou a sonoridade manifestamente 80´s dos Franz Ferdinand, ou dos Kaiser Chiefs (as coisas que de interesse recentemente surgiram). Foi quando também ele decidiu aparecer em força, em vez de editar como o foi fazendo Lloyd Cole, em pleno pico inventivo do grunge, do electrónico e sobretudo da música negra norte-americana.
Morrissey is God and nothing is comparable to God.
In anyway.
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