Não importa apenas condenar a morte brutal de um chefe de estado às mãos da carbonária, um crime que a própria "entourage" republicana - consciente do jogo democrático - repudiou. Mais que o crime e a morte do Rei e do Príncipe seu sucessor, importa cada vez mais saber o que a brutalidade desse mesmo dia significou e sobretudo, colocar a nú o facto de desde essa mesma data, o Portugal do Século XX ter mergulhado e vivido muito longe da alternância democrática e constitucional que desde 1834, com o fim das guerras liberais, se vinha verificando.
Para ser verdadeiro, a morte do rei D. Carlos e com ele, o fim da Monarquia Constitucional, não teve outro efeito senão o de fazer perder para Portugal a vivência liberal que durante 74 anos teve presença efectiva na vida política nacional e que conheceu nomes como Joaquim António de Aguiar, Fontes Pereira de Melo, Duque de Saldanha, Passos Manuel, Sá da Bandeira, Hintze Ribeiro, Costa Cabral, Braamcamp entre muitos outros e que de igual modo, correpondeu a desenvolvimentos económicos significativos como seja a instalação da Bolsa no Porto, dos Caminhos de Ferro, a exploração e o aproveitamento das riquezas da colónias africanas, o incremento das exportações etc... etc... .
Depois da morte do Rei D. Carlos, houve a I República (com uma míriade de nomes que ninguém se lembra) e Salazar.
a) I República: período de tempo que por conveniência política e ideológica é mantido debaixo do tapete e que corresponde ao mais absoluto tumulto da comunidade nacional, com perseguições políticas e assassínios, perseguições religiosas, profunda crise económica e moral, apenas agravada com a entrada na I Guerra Mundial, com custos humanos e financeiros totalmente incoportáveis, que aprofundou ainda mais a crise, desencadeando-se novas perseguições assassinatos políticos num verdadeiro clima de guerra civil que culmina com a morte do Presidente da República Sidónio Pais, vários ministros e sucessivos golpes de Estado, que conduziram à existência de 50 governos em 16 anos!!!
B) Salazar: é evidente que perante o quadro vivido em Lisboa e a incapacidade Republicana de fazer o que quer que fosse, há o golpe de maio de 1926 e a instalação de uma administração militar e o convite dirigido a Salazar para ser ministro das finanças. Tudo o resto - uma vez mais por ideológica - é de todos os mais novos sabido, as origens do salazarismo é que continuam camufladas.
E eis-nos 100 anos depois a tentar restabelecer um pouco da normalidade constitucional existente durante a monarquia, que viu neste mesmo dia o seu chefe máximo assassinado pelos mesmo motivos ignorantes, que algum modo se perpetuaram por todo o Século XX.
A morte do Rei custou-nos muito. Custou-nos todo o século XX e o enquadramento liberal que tanta falta nos faz. E quem assim não entenda, não pode senão faltar-lhe perspectiva histórica - o que de algum modo se perdoa, atenta o pouco à vontade ideológico da República em discutir estas mesmas questões com a profundidade que merecem.
Viva o Rei!
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