quarta-feira, 23 de novembro de 2005

DO DIA.

Notícia do dia:
Ratzinger, o Papa Bento XVI, vai vetar o acesso ao sacerdócio de homosexuais, «gays» ou «sodomitas» - repescando assim uma velha terminologia que a Igreja Católica, num passado ainda recente, gostava de utilizar!
Perplexidade do dia:
Então e ... o que vai a Igreja fazer com os homosexuais, «gays» ou «sodomitas» que já exercem o sacerdócio? Vai excomungá-los?

7 comentários:

fritzthegermandog disse...
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fritzthegermandog disse...

Caro asp,

creio que se há estrutura que deveremos louvar pela respectiva coerência - que livremente se manifesta, independentemente dessa entidade cada vez mais monstruosa que é o políticamente correcto (e que cada vez mais se revela como o absolutamente nada) - é precisamente a igreja católica. Se esta históricamente sempre considerou que o sacerdócio enquanto sacramento, e enquanto papel relevante na sociedade, deve ser exercido por um determinado conjunto de homens, que reflictam uma determinada concepção teológica e moral dessa mesma sociedade e do Homem perante Deus, então acho muito bem que a própria Igreja seja consequente com a defesa desses mesmos valores e com a respectiva teologia. E isso não é discriminação, é a mais absoluta coerência.

Se o asp quiser fazer parte da maçonaria - a título meramente exemplificativo - dela seguramente nunca fará parte se o caríssimo asp persistir em assumir-se como crente na divina trindade e na encarnação do Jesus Cristo como Homem. Tal também não é disciminação, é a mais simples e bem-vinda coerência.

O que não se pode querer é exigir que tudo seja tratado da mesma forma, ao barulho e ao mesmo tempo!

Viva Ratzinger!

fritzthegermandog disse...

Caríssimo asp,

a título meramente hipotético e recreativo, está a ver o Grande Mestre maçon (será esta a designação?) do Grande Oriente Lusitano, a professar a encarnação do corpo e sangue de Jesus Cristo, no pão e no vinho?

Seguramente que não, pelas razões óbvias! A Maçonaria não defende tal tipo de abordagem e entendimento filosófico e louve-se pois a sua coerência. O que espanta é que sendo a igreja católica - e Ratzinger em particular - a fazer uso e a demonstrar tal coerência filosófica e teológica logo seja apelidade de preconceituosa.

De onde resulta perguntar-se, onde está o verdadeiro preconceito.

fritzthegermandog disse...

Cara Margot,

antes de mais, permita-me que lhe dê as boas-vindas. Para quem é cliente assíduo e vai assinando algumas coisas por este blog, é sempre estimulante ver alguém novo aparecer.
Mas vamos à polémica!
O facto de, como diz, a Igreja Católica, fazer questão no encobrimento dos abusos sexuais protagonizados por sacerdotes não constituí, no meu entender, o vector fundamental de toda esta questão. Se têm em mente o ocorrido na Diocese de Boston, esses factos foram imediatamente condenados pelo Papa João Paulo II e foram objecto de procedimento interno, que creio culminaram com o afastamento de grande parte da hierarquia naquela diocese norte-americana. Como vê a Igreja não é conivente! Têm, como não poderia deixar de ser, as suas falhas e os seus erros. Agora o que me parece de verdadeira importância na presente discussão, não é saber se este ou aquele beneficiou em pequena ou larga escala de conivências ou de encobrimentos - até á hora em que estes se revelam - mas sim a coerência doutrinal e teológica da igreja em duas vertentes: a) a coerência para com o corpo doutrinal, teológico e moral perseguido pela Igreja Católica; b) a coerência enquanto valor em si mesmo, apesar e contra este clamor de um conjunto de ideias feitas, que em termos comuns se designam como políticamente correctas e que a todo o custo - mesmo com o sacrifício daquele mesmo valor dito coerência - pretende ser imposto à sociedade e a todas as suas instituições. E é por isso que todo este barulho me parece sumamente ridículo. Com a decisão doutrinal afirmada por Ratzinger, a Igreja Católica não fez mais do que afirmar o seu posicionamento tradicional, posicionamento esse, que nas sociedades liberais e tolerantes como julgo serem as nossas - agora começo a desconfiar - é perfeitamente legítimo.

Não Caríssima margot. O Cardeal Ratzinger, o Papa Bento XVI, não nasceu para ser o Papa Porreiro, o Papa Cool, o Papa Bacano. Isso - como bem notou acima James Bond - era aquilo que o programa e a "inteligentsia" do politicamente correcto pretendia. Contudo, a Igreja Católica não pode simplesmente deitar ao lixo séculos de dogmática, para satisfazer a vontade do porreirismo e da camaradagem global a que nos pretendem reduzir e de que qualquer coisa vale a pena - independentemente do que quer que isso signifique - desde de que não haja ninguém que chateie e diga que não. Os que contrariam esse facilitismo e o acordo global sobre determinadas matérias (aborto, casamento e adopção por homosexuais, uso de células estaminais, clonagem etc...) são os fascistas, os reaccionários.

E por isso ainda que fascista ou reaccionário, haja a liberdade para dizer NÃO e para apresentar perspectivas diversas.

Viva Ratzinger, Viva Bento XVI!

ASP disse...

Caríssimos:
Estou a adorar o debate sobre o este meu postal.
Todavia, entretanto, fui subitamente assaltado pela seguinte dúvida: não é suposto que qualquer sacerdote, independentemente da sua «tendência» sexual (hetero, homo ou bi), não a ponha em prática, no seu exercício pastoral, em face do voto de castidade que assume aquando da investidura como Padre? Serei eu que estou a pensar mal? E, caso não esteja, qual então o alcance prático que se pretende obter com o Édito Papal?

fritzthegermandog disse...

Cara margot,

reparará que se começam a amontoar as visitas ao seu profile. Sehr gut für uns und für dich!

Não sei quantos mais casos de abuso sexual por sacerdotes tem a margot conhecimento - lembro-me agora de um outro, a do padre frederico que foi igualmente objecto de procedimento criminal e creio que de condenação. Agora o silêncio de que fala (o silêncio das vítimas) é o grande problema deste tipo de crimes e ele existe independentemente do abusador ser sacerdote, bispo, notário, médico, artista de circo, rádio, tv ou disco. O outro silêncio de que fala (o da igreja católica, relativamente a este tipo de crimes) é que parece, porém, insinuar um seu preconceito: a de que em cada paróquia haverá um abusador em potência e de que relativamente a muitos deles (que a margot insinuará existirem), a igreja se cala. E isso parece-me manifestamente abusivo quando considerados alguns dos exemplos que vêm ilustrando esta nossa discussão (Boston, Frederico).
Será só obrigação da Igreja Católica denunciar tais situações? A comunidade médica ou judicial não terá tal obrigação perante os seus representantes? A comunidade artística, seja a da rádio, tv ou disco, não terá igualmente tal obrigação? Sei que dirá que sim e que reconhecerá que, nas mesmas, poderão de igual modo existir as conivências e as tentativas de branqueamento que pretende assacar quse em exclusivo à Igreja Católica. Logo a obrigação de denúncia deixa de ser mais de uns do que outros. Presumo que concordará que ela é de todos.

Quando falei do Papa porreiro, cool ou bacano, não tinha em perspectiva a maior ou menor simpatia pessoal que Ratz desencadearia junto dos mais velhos ou mais novos. Tinha e tenho em perspectiva uma ideia quase global de que se exigiria do novo Papa (fosse ele Ratzinger, ou qualquer outro) uma maior abertura - diria quase facilitismo - da Igreja Católica relativamente a um programa de valores e que hoje perfeitamente se identifica com o credo do politicamente correcto: o sacerdócio para as mulheres, para os homosexuais, permissão para o uso de embriões humanos para fins científicos/uso de células estaminais, aborto, clonagem, casamento homosexual ente alguns outros. O Papa cool, o Bacano XXI, seria aquele que sobre todas estas matérias protagonizaria uma abordadem mais porreira e consequentemente de grande abertura, que melhor se adoptasse a esta nossa dissolução de referências e de valores em que se tornam, cada vez mais, as nossas sociedades capitalizadas e consumistas em último grau.

E digo assim digo: ainda bem que o escolhido foi "das rotweiler von Gott". Não queria imaginar a desilusão de todas as pessoas que aclamariam o que lhes poderia parecer um Bacano XXI. O programa da Igreja Católica é claramente conservador e Ratzinger é a escolha claramente maioritária que tal reflecte.

Perante os dilemas éticos hoje levantados pelo conhecimento cientifico - se é que ética diz alguma coisa para si margot, e acredito que sim - e as possibilidades de manipulação da natureza humana que ela permite, creio que os tempos terão necessariamente que passar por escolhas e por referências claras, inquestionáveis, e em absoluto intransacionáveis. A igreja católica pretende constituir esse núcleo de referências, por muito que isso possa parecer politicamente incorrecto.

Immer Geraderaus Ratz. Du weisst die Weg!

fritzthegermandog disse...

Cara margot,

devo dizer que achei interessante a presente troca de impressões. O propósito da mesma nunca foi impor visões absolutas do problema que discutimos. Considero igualmente, que a Igreja Católica é senhora de inconsistências. Agora, o que sempre me pareceu, é que relativamente ao problema que moivou a presente troca de posts - não acesso ao sacerdócio de homosexuais - se condena a mesma Igreja Católica, quando a mesma reforça doutrinalmente essa mesma restrição tradicional, sem que, quanto ao mesmo assunto, fosse expectável qualquer alteração ou abertura. Portanto, o que aconteceu foi aquilo que se esperava que acontecesse e que até ao presente sempre aconteceu.
De onde resulta, que muitas vezes se ataca e se faz barulho aonde esse mesmo barulho não merece ser feito e é-o só porque se trata da Santa Mãe Igreja.
O facto de, em outras sociedades e religiões - por exemplo a muçulmana - a homosexualidade ser motivo de condenação à morte, não merece muitas vezes da nossa parte uma só linha que seja, ou um só clamor. E isso, mais do que uma sabida afirmação doutrinal da Igreja, é que deve merecer a nossa reflexão.

Espero contudo, caríssima margot, que muitas outras discussões possam ter lugar no feirafranca.

Até breve!