sexta-feira, 4 de novembro de 2005

sobre o fim de um tempo, o fim da social democracia

Nenhuma outra coisa se ouve senão o desânimo e a consternação entre nós, os portugueses. E que tal desânimo e consternação é connosco mesmo e com aquilo em que recentemente nos quisemos tornar: numa social democracia europeia avançada e progressiva de cristalina e interveniente justiça social. Difícil não é constatar, que esse projecto tão magnificiente e estimado (e que em tão poucos anos foi erigido, 30), manifestamente, ficou pela metade. A outra existe nos bolsos dos serviçais, dos corporativismos instalados e das clientelas que tão bem esse mesmo estado-previdência quis servir (e serve) usando o intermediário de serviço (os partidos sociais-democratas portugueses) que por voto directo se mantinham (e mantêm) nos respectivos comandos. E é por isso que nós, os portugueses, nos mostramos tão desencantados, incapazes de respostas ao sucedido.
É verdade caríssimos irmãos de sangue e de cultura, o socialismo ou a social democracia portuguesa, que tão deligentemente nos ensinaram a não questionar (ora bolas! até o Marx vinha primeiro que o Kant e o Espinoza, nos bancos da escola e o Tex Avery era um rebuçado raro, no meio do grafismo animado e incompreensível, a que os camaradas de revolução checos e polacos do Vasco Granja se dedicavam, a bem das suas criancinhas) esse projecto social democrático e previdente de inspiração marxista, dizia, em que os portugueses tanto sacrifício e dinheiro de impostos continuam a pôr, morreu, é finito, c´est fini, kaputt geworden ist!!! Daí o sentimento do mais profundo vazio, a incredulidade.
Esta a mais pura e simples verdade a que acresce o facto de, apesar de moribunda, nos querer extorquir ainda mais dinheiro. Aliás o desmantelar da tenda social-previdente e igualitária já começou e, cinismo dos cinismos, começou pelos próprios partidos políticos que por ela são responsáveis e que a ela (social-democracia) tão zelosamente se dedicaram. Vontade de persistir no poder, a quanto obrigas... O tempo é pois, de fim de ciclo e é isso aquilo que os portugueses lamentam (eu não particularmente): anos a fio de um sonho e de um país, que existe apenas pela metade.

Mas como diriam no tempo dos Reis, num misto de perda, mas de esperança no futuro e em Portugal: O Rei morreu. Viva o Rei!

4 comentários:

El Torero disse...

Caro Fritz,

Após ler o seu post, fiquei com vontade de importar as acções da guerrilha urbana francesa.

Logo à noite vou começar a incendiar automóveis.

Abraço
El Torero

ASP disse...

Caro Fritz:
Dê asas ao seu "ódio de esquerda", mas, p.f., "don`t jump over the conclusions"!´
É que, com o devido respeito, nem creio estarmos em fim de ciclo (mormente para a social-democracia), nem creio que a social-democracia "à portuguesa" (particularmente a perspectivada pelo PPD/PSD) se esgote nos baluartes da esquerda que aponta, nomeadamente o da defesa de um Estado social e previdente.
Com efeito, não se esqueça que (sobretudo) o PSD, além de tudo o mais, defende e respeita a inciativa e a propriedade privadas, possui uma clara veia reformadora, etc., etc.

fritzthegermandog disse...

Caro torero e asp:

incendiar carros seria passar para uma fase de radicalização, sem que antes se tivesse discutido o fundamental: quais os valores e as opções de que se fará o Estado para os próximos 30 ou 40 anos - seguramente concordará que o modelo estatal de hoje e que directamente decorre de opções claramente tomadas à esquerda, não servirá o Portugal que queremos. Entretanto e por mera recriação, poderíamos exercitarmo-nos incendiando caracóis e caracoletas como interlúdio daquela incendiária e famosa frase de ver lisboa a arder (disponho de lança-chamas e stock de gasolina suficiente!)

liebler asp,

explique-me então o voto favorável do PSD à constituição marxista de 1976.

ASP disse...

Caro Fritz:
Os partidos políticos, no já longínquo ano de 1976, todos eles, sem excepção - e, portanto, também o CDS/PP, o mais «à direita»! -, face ao contexto histórico e sociológico de então («pós-revolucionário» e de transição para o chamado «regime democrático»), viviam enfileirados por paradigmas esquerdistas.
Felizmente, alguns desses partidos - leia-se: o PPD/PSD e o CDS/PP - pugnaram por uma evolução política, perfeitamente normal e até salutar em Democracia, deixando cair grande parte desses ditos paradigmas.
Agora, quanto ao modelo estatal, que tão abundantemente temos debatido, parecem inequívocos e indesmentíveis os seus sinais de crise - do Estado Social e Previdente -, pois o Estado não tem dinheiro para distribuir pelos mais carenciados e desfavorecidos e não pode onerar mais os seus principais contributores, ou seja, nós contribuintes.
Mas isso não quer necessariamente dizer que o modelo seja mau, «tout court», ou que deva ser abandonado e desmantelado, substituído por um modelo assente no individualismo puro e no capitalismo selvagem.
O modelo social de Estado, na minha modesta opinião, tendo sido mal administrado pelos nossos sucessivos governantes, tem muitas virtudes - carece todavia que, urgentemente e sob pena do seu colapso, seja reanalisada a sua parte redistributiva, porventura mitigando-a, nomeadamente adicionando-lhe a possibilidade das pessoas optarem por sistemas sociais complementares e auto-financiados.
Abraço.