Para John Mearsheimer a política das grandes nações é, invariavelmente, uma tragédia. Essa constatação é óbvia e não precisa Mearsheimer de recuar muito no tempo (e na história) para encontrar exemplos trágicos significativos, e globais. Mas o que motiva Mearsheimer, além das tragédias manifestas, é comprovar teoricamente que as mesmas acontecem, em momentos particulares da história, quando o enquadramento dos protagonistas globais, obedece a um conjunto de tendências e dados objectivos, cuja verificação conduz, invariavelmente, a um momento decisivo na história, o mesmo é dizer, um momento sempre infeliz e trágico.
Há um petição de princípio em Mearsheimer e que aqui se subscreve: todo o Estado é por essência predatório, ou seja, a lógica que o mesmo desenvolve na cena internacional, visa unicamente e em última análise, a maximização dos proveitos que o mesmo pode retirar da fraqueza ou debilidade internacional dos outros, procurando Mearsheimer igualmente demonstrar – o que aqui, por ora, é secundário – o modo pelo qual, todo o Estado o faz.
Estabelecida aquela petição de princípio que nos remete para uma visão REALISTA das relações internacionais (sobretudo fundamentadas por Hans Morgenthau, ou Henry Kissinger) importa pois convocar e descrever historicamente, todas aquelas situações, que sendo particulares mas manifestas, conduziram invariavelmente, a tragédias humanitárias. E elas são: as Guerras Napoleónicas, a Grande Guerra e a Segunda Guerra Mundial. E em todas estas circunstâncias absolutamente trágicas para o mundo, a situação internacional que lhe antecedia, era caracterizada pela polarização do poder, ou seja, nenhuma das grandes potências internacionais (França, Inglaterra, Rússia, Áustria-Hungria, Alemanha e a partir de determinado momento, Estados Unidos) possuía a capacidade económica e militar suficiente, para se impor a todas as demais, facto que acentuou a competição entre todas elas e consequentemente, o respectivo atrito internacional, com as consequências que todos, de resto, conhecemos.
Ainda seguindo Mearsheimer, a estas circunstâncias opõem-se aqueles outros momentos na história e nas relações internacionais, em que havia um dominador único – ou seja, um Estado capaz de se impor económica e militarmente, ao poder de todos os demais – sendo que tais momentos, corresponderam, invariavelmente e de igual modo, a períodos da história mundial de paz e/ou de desenvolvimento económico. Aqui Mearsheimer reporta-se à Inglaterra pós-Congresso de Viena, até à antecâmara da Primeira Guerra Mundial, e à disputa Estados-unidos, União-Soviética, após a Segunda Guerra Mundial, até ao 11 de Setembro. Esses outros períodos da História, são assim unipolares ou então bipolares, quanto a quem é internacionalmente dominante, por oposição àqueles outros polarizados, ou multipolares, que conduziram ás fatalidades históricas relatadas.
E um mundo multipolar é aquele que cada vez mais se adivinha, agora que Obama é o Presidente dos Estados Unidos da América. E essa multipolaridade não decorre apenas do crescente domínio regional exercido por Rússia, China ou Índia (e que se concentra num único espaço físico, o oriente). A multipolaridade de hoje, tem igualmente a ver com aquilo que poderá ser uma alteração de postura dos Estados Unidos da América no mundo, a pedido de todos os politicamente bem-pensantes e intencionados. A questão fundamental e sobre a qual pouca gente discorre, é que isso traz custos potencialmente tenebrosos para a humanidade, pois acentuará no futuro, a competição e o atrito por zonas de influência, uma vez que todos os restantes competidores internacionais, percebem que os Estados Unidos deixaram de demonstrar empenho e vontade política naquele mundo bipolar/unipolar que nos garantiu 64 anos de paz.
E para demonstrar os custos que essa retirada ou menor empenho dos Estados Unidos trará para a humanidade, basta fazer um simples exercício: a retirada anunciada por Obama do Iraque. A acontecer nos moldes anunciados – 16 meses – tal implica não só o reconhecimento do domínio regional no médio oriente do Irão, que procurará capitalizar em toda a medida e por todos os lados, esse ganho imprevisto, aprofundando uma parceria com a Rússia, destabilizando a Turquia, mas sobretudo dará um sinal tenebroso a Israel, de que politicamente conta apenas com ele próprio e terá de haver-se sozinho, com todos os seus antagonistas, nomeadamente aqueles que pretendem a sua irradicação do mapa. E isso é uma perspectiva trágica, que só de a assentar no papel, dá arrepios na espinha…
Os Estados Unidos são pois vector fundamental e talvez, o vector único para o mundo ocidental, na prevenção das tragédias futuras. E por isso Obama, depois da retórica sem dúvida brilhante que o pôs na Casa Branca, e depois do facto de o mundo o ter efusivamente celebrado, se pretende que assim continue a ser por muito tempo, não mudará uma vírgula naquilo que tem sido feito, ainda que encha a boca com a palavra mudança. E isso hoje, parece fundamental, para poupar o resto do mundo à sua própria tragédia.
Que Deus continue a abençoar a América.
Há um petição de princípio em Mearsheimer e que aqui se subscreve: todo o Estado é por essência predatório, ou seja, a lógica que o mesmo desenvolve na cena internacional, visa unicamente e em última análise, a maximização dos proveitos que o mesmo pode retirar da fraqueza ou debilidade internacional dos outros, procurando Mearsheimer igualmente demonstrar – o que aqui, por ora, é secundário – o modo pelo qual, todo o Estado o faz.
Estabelecida aquela petição de princípio que nos remete para uma visão REALISTA das relações internacionais (sobretudo fundamentadas por Hans Morgenthau, ou Henry Kissinger) importa pois convocar e descrever historicamente, todas aquelas situações, que sendo particulares mas manifestas, conduziram invariavelmente, a tragédias humanitárias. E elas são: as Guerras Napoleónicas, a Grande Guerra e a Segunda Guerra Mundial. E em todas estas circunstâncias absolutamente trágicas para o mundo, a situação internacional que lhe antecedia, era caracterizada pela polarização do poder, ou seja, nenhuma das grandes potências internacionais (França, Inglaterra, Rússia, Áustria-Hungria, Alemanha e a partir de determinado momento, Estados Unidos) possuía a capacidade económica e militar suficiente, para se impor a todas as demais, facto que acentuou a competição entre todas elas e consequentemente, o respectivo atrito internacional, com as consequências que todos, de resto, conhecemos.
Ainda seguindo Mearsheimer, a estas circunstâncias opõem-se aqueles outros momentos na história e nas relações internacionais, em que havia um dominador único – ou seja, um Estado capaz de se impor económica e militarmente, ao poder de todos os demais – sendo que tais momentos, corresponderam, invariavelmente e de igual modo, a períodos da história mundial de paz e/ou de desenvolvimento económico. Aqui Mearsheimer reporta-se à Inglaterra pós-Congresso de Viena, até à antecâmara da Primeira Guerra Mundial, e à disputa Estados-unidos, União-Soviética, após a Segunda Guerra Mundial, até ao 11 de Setembro. Esses outros períodos da História, são assim unipolares ou então bipolares, quanto a quem é internacionalmente dominante, por oposição àqueles outros polarizados, ou multipolares, que conduziram ás fatalidades históricas relatadas.
E um mundo multipolar é aquele que cada vez mais se adivinha, agora que Obama é o Presidente dos Estados Unidos da América. E essa multipolaridade não decorre apenas do crescente domínio regional exercido por Rússia, China ou Índia (e que se concentra num único espaço físico, o oriente). A multipolaridade de hoje, tem igualmente a ver com aquilo que poderá ser uma alteração de postura dos Estados Unidos da América no mundo, a pedido de todos os politicamente bem-pensantes e intencionados. A questão fundamental e sobre a qual pouca gente discorre, é que isso traz custos potencialmente tenebrosos para a humanidade, pois acentuará no futuro, a competição e o atrito por zonas de influência, uma vez que todos os restantes competidores internacionais, percebem que os Estados Unidos deixaram de demonstrar empenho e vontade política naquele mundo bipolar/unipolar que nos garantiu 64 anos de paz.
E para demonstrar os custos que essa retirada ou menor empenho dos Estados Unidos trará para a humanidade, basta fazer um simples exercício: a retirada anunciada por Obama do Iraque. A acontecer nos moldes anunciados – 16 meses – tal implica não só o reconhecimento do domínio regional no médio oriente do Irão, que procurará capitalizar em toda a medida e por todos os lados, esse ganho imprevisto, aprofundando uma parceria com a Rússia, destabilizando a Turquia, mas sobretudo dará um sinal tenebroso a Israel, de que politicamente conta apenas com ele próprio e terá de haver-se sozinho, com todos os seus antagonistas, nomeadamente aqueles que pretendem a sua irradicação do mapa. E isso é uma perspectiva trágica, que só de a assentar no papel, dá arrepios na espinha…
Os Estados Unidos são pois vector fundamental e talvez, o vector único para o mundo ocidental, na prevenção das tragédias futuras. E por isso Obama, depois da retórica sem dúvida brilhante que o pôs na Casa Branca, e depois do facto de o mundo o ter efusivamente celebrado, se pretende que assim continue a ser por muito tempo, não mudará uma vírgula naquilo que tem sido feito, ainda que encha a boca com a palavra mudança. E isso hoje, parece fundamental, para poupar o resto do mundo à sua própria tragédia.
Que Deus continue a abençoar a América.
"the tragedy of great power politics" por john mearsheimer, em versão portuguesa editado pela Gradiva, 20 euros mais caro do que pedir o livro pela Amazon.
Sem comentários:
Enviar um comentário