Pelas férias, atravessei por duas vezes essa ficção chamada espanha. Uma para ir, outra para voltar (graças a Deus!). Achamos sempre este rectângulo num alvoroço e bem dizemos e invejamos a ficção chamada espanha. Alguns dos que se darão ao trabalho de ler o post – e às vezes confesso-vos que também eu os acho demasiado compridos – dirão: quem nos dera a capacidade económica dos espanhóis. Invejam a deles, maldizem a nossa. E eu direi que assim é, mas não invejo, nem maldigo. E direi mais: ainda bem para os próprios espanhóis!
Nesta histeria mediática em que nos revolvem, que sistematicamente nos apresenta como aqueles a quem o futuro nada adianta e que sucumbiremos às mãos da nossa própria inépcia (qual?), havendo vozes que num registo básico nos dizem que não sabem “... se daqui a cinquenta anos Portugal ainda existe”, seria bom que a tal inveja não nos toldasse os olhos e olhássemos para a situação política dessa ficção chamada espanha, cada vez mais a braços com a tal questão (que julgávamos exclusivamente nossa) da sua sobrevivência como país. Porquê!? Perguntarão os incrédulos. Puséssemos nós mais olhos no que se passa no mundo e cedo perceberíamos. A ficção chamada espanha resolveu pelas mãos do Zapatero pôr à discussão e rever os chamados estatutos autonómicos (galiza, catalunha, andaluzia, castela e léon, aragão) em consequência das progressivas cedências do mesmo Zapatero ao governo autonómico do País Basco. Convém referir como nota que, tais estatutos sempre tiveram existência mas juridicamente sempre se conformaram à estrutura e normatividade da constituição espanhola. Que se passa então, por estes ricos dias, nessa ficção chamada espanha? Precisamente o tornar claro e distinto a existência de tal ficção. Os Catalães não querendo ficar atrás do estatuto já reconhecido ao Bascos (que chegou inclusivamente a apresentar uma proposta de ser país associado ao estado espanhol) propõem um estatuto que claramente viola a constituição espanhola e em consequência a proeminência jurídica da Espanha. A Catalunha, depois de muitos silêncios suspira a independência e não faz nenhuma questão em esconder tal facto: o preâmbulo autonómico catalão afirma expressamente “Cataluña está en un proceso de construcción nacional". Em resposta os conservadores espanhóis (PP) organizaram uma manifestação a favor da constituição espanhola em Madrid e da ideia de país que sempre defenderam, no que logo foram catalogados por largos sectores políticos (nomeadamente os socialistas) de fascistas. Para ajudar negativamente, alguns sectores económicos catalães ameaçam agora com boicote económico a restante ficção de que são partes se a proposta de estatuto não for aprovada no seu essencial, ao que esta naturalmente a ficção responderá.
Agora tentemos imaginar tudo isto tendo por fundo uma crise económica! A ficção chamada espanha até têm os bolsos cheios, mas, em bom português, há apenas um nome para o que politicamente ali se passa: sedição. E é por isso que devemos sempre por as coisas em perspectiva e sermos justos no julgamento que fazemos de nós mesmos, como país e como povo.
3 comentários:
Caro Fritz,
Não maldigo os espanhóis. Até simpatizo com eles. Mais ainda, a partir do momento em que começaram a ser estes, a me pagarem o ordenado!
Quanto ao texto... muito, mas muito, pertinente.
Um abraço
Amigo Fritz,
Proponho abolirmos desde já a utilização do epíteto "espanhol" e generalizarmos a utilização de bascos, galegos, catalães, etc. Pessoalmente não gosto que no estrangeiro confundam a minha nacionalidade.
Aliás, quando Espanha estiver diluída já estou a imaginar esses ex-espanhóis a serem confundidos com PORTUGUESES. E depois, a Madeira vai propor uma solução separatista, depois os Açores, logo seguidos pelo Alentejo. Ok, reconheço que cedi à piada fácil.
PS: amigo Fritz, os seus posts são (na grande maioria) fantásticos. Por favor, não diminua a fonte porque os posts ficam de difícil leitura.
Caro amigo el torero,
teria todo o gosto em tratá-lo por basco, catalão, castelhano, andaluz ou galego. Apesar do "nickname" sei que qualquer das categorias acima explicitadas, não se lhe aplica e ainda bem!
De qualquer forma devo dizer-lhe, que foi precisamente uma das decisões que resultou dessa viagem pela ficção chamada espanha: não dizer "espanhol" mas sim basco, catalão, galego ou andaluz. Aliás tive oportunidade de estar pelo menos uma vez em cada um destes países (pais basco, catalunha, galiza e andaluzia) sendo manifesta a distinção nacional entre todos. A "espanha" existe apenas por tolerância de todos.
PS: farei o font como me pede!
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