segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

clube beretta 2000 - os diários



Fornos, 05 de Fevereiro de 2006

o ford capri

Não era de 1979 o Ford Capri que estivera por tempos aos cuidados do biela e que nos acompanhara na discussão estratosférica sobre a república. Era de 1973. Agora, por dois mil e quinhentos euros a pagar até Agosto em prestações mensais e sucessivas, passara igualmente a constar do meu acervo de proprietário. Não que seja grande coisa ou de grande monta em termos monetários, esse acervo em meu nome... pelo inverso! Sendo exíguo, ele distingue-se antes por compreender elementos pouco vulgares, de um gosto preciso, que poderão aliás ser mal entendidos pelo comum dos cidadãos, senão vejamos: uma reprodução de quadros de josé de guimarães da série “Chinese Stories” de 2002 em acrílico sobre papel; uma iguania, iguana, iguana com o pretensioso nome de freitas, cuja alimentação me obriga à desagradável tarefa de fritar escaravelhos todos os dias no micro-ondas; uma pistola semi-automática Beretta Vertec 96, passaporte necessário para integrar o Clube Beretta 2000, bem como as actividades por si definidas; e agora, um Ford Capri de 1973, de 85 cavalos, em relativo bom estado, comprado em quinquagésima mão ao biela e pelo qual me endividei até Agosto de 2006. Este, o meu património, dívidas incluídas. O facto de me encontrar presentemente a “falar” para a anabela (aliás, já o vou fazendo à 6 anos!) nada conta para estas quantificações de ordem material, uma vez que nada de estabelecido existe quanto a futuros compromissos mais sérios ou mesmo sacramentados. De momento, trata-se antes de um simples mas indesmentívelmente agradável usufruto...
Assim e para todos os efeitos (nomeadamente para os fiscais) o Ford Capri de 1973 de cor preta, estofos em couro e grelha metalizada irrepreensível, constituía um dos elementos (senão mesmo, o elemento!) mais precioso dessa contabilidade patrimonial que me era juridicamente reconhecida, enquanto torneiro mecânico de profissão, residente em Fornos.
E como a qualquer proprietário digno desse nome, lhe dá gozo tirar partido das coisas que possuí (creio que a propriedade das coisas nada mais serve do que para isso mesmo, dar-lhes uso e pelo menos é isso que sempre procuro fazer com alguns dos meus itens, como a Beretta Vertec 96, nem que seja para mandar uns tiros para o ar) resolvi aproveitar este enxerto primaveril acontecido em pleno inverno, entrar em contacto com o razz (só mais tarde irei com a anabela ao cinema) e guiando o Ford Capri de 1973 de meu domínio, fazer uma breve visita ao nosso grande mentor político-filosófico, ser profundamente inteligente mas enigmático, por ora estabelecido na praia do Furadouro, que unicamente responde pelo bizarro nome de CÃO ESCURO... Uma coisa houve contudo, que logo me desagradou: o Ford Capri não pegou à primeira....

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