sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

clube beretta 2000 - os diários











uma ak-47 no lugar dos dezassete...

Há coisas que não lembram nem ao diabo, nem ao seu primo ou ao enteado dele, muito menos àqueles que do seu juízo pretendem que se continue a fazer boa conta. É certo que o alfredo da tijuca andava, havia uns tempos, a acumular pontos para uma valente porrada de ciganos - esta coisa de invariavelmente se fazer acompanhar para acções do Clube Beretta com pistolas da concorrência, aborrecia-nos de uma forma efectiva e muito vincada – e também certo é, que nós do Clube Beretta, persistíamos numa intransigência, para alguns incompreensível, no que respeita aos seus pressupostos de integração: ser portador nominativo de uma pistola automática da marca Beretta, fosse ela uma Vertec 96 Inox como a minha, fosse a nova 90two de 9mm ou qualquer outra das restantes linhas compact ou subcompact. O imprescindível era aparecer com uma na mão! Por isso, tirar da gabardina aonde se escondia, uma metralhadora AK – 47, vulgo Kalaschnikov, de calibre 5.45mm, como fez o alfredo da tijuca assim que parqueamos o ford capri à sua frente, ainda para mais, sem qualquer espécie de aviso prévio e com uma naturalidade verdadeiramente absurda, do tipo, olha o que eu trago aqui!, não pode, nem deve ter outro qualificativo e atestado psiquiátrico que não o da pura loucura, o da insanidade, ou do sério e gravoso desacerto emocional. O gesto assaz natural e despreocupado com que o fez, empunhando aquela arma de guerra, teve o condão de me fazer baixar e juntar as mãos nervosas á coronha e o dedo ao gatilho da Vertec 96 e de pôr imediatamente em fuga daquele perímetro, o razz e o quim barbeiro. O biela foi o único que manteve a compostura e creio até, não se ter mexido nem um centímetro.
Foi por isso aos berrros de guarda essa merda pá! e de estás maluco (com a notória excepção do biela) que o alfredo da tijuca foi explicando a sua história, a história da ak-47 no lugar dos dezessete...
Aparentemente frustrado pela nossa sucessiva intransigência e na dificuldade de arranjar uma Beretta genuína e legítima quanto aos seu porte, decidira reactivar um antigo relacionamento estabelecido anos atrás, pelo correio, de um “penn friend” ucraniano, solicitando-lhe informações sobre como adquirir armamento de origem russa, uma vez que acreditava (e nisso acabara por ter inteira razão!) que em tais partes seriam menos as perguntas e menos a burocracia a superar, para se poder disparar um simples tiro. E fora pois a boa vontade dessa alma ucraniana prestável e caridosa, o eslavo que escreve inglês, que lhe fizera chegar da ucrânia, às peças, a dita arma, numa versão especialmente desenvolvida para o exército búlgaro, dentro de uma caixa sobre a qual se poderiam ler frases nas quais se agregavam tanto letras, como números (o alfredo da tijuca tem alguns talentos, mas o eslavo não é um deles). Aparentemente na ucrânia, disse por fim o alfredo da tijuca, comprar kalashnikovs é a mesma coisa que comprar caramelos e castanholas em espanha, no hay ningún, ningúníssimo problema!
Ora, ainda que fosse verdadeiro esse surrealismo de se remeter ou despachar pelo correio máquinas de guerra ucranianas (em versão búlgara) e de as mesmas cumprirem aí a mesma função que as castanholas na espanha (ou seja, fazer barulho!) persistia o problema habitual no que ao Clube Beretta e ao alfredo da tijuca dizia respeito, coisa que, como dissemos, lhe vinha até assegurando a possibilidade de um dia presenteá-lo com a tal porrada de ciganos. Mas havia um dado novo na equação: o esmero, empenho e a bondade do penn friend, cuja solidariedade e apego internacionalista não poderia ser por nós frustrada – afinal que melhor coisa no mundo haverá, num sentido estritamente económico, do que falar-se inglês e dedicar-se ao tráfico de armas? A esta mesma preocupação acrescia igualmente a clara percepção em todos, de que uma coisa seria fazer a alta velocidade o sentido Furadouro-Fornos num domingo solarengo empunhando pistolas automáticas, num ford capri (por muito cartaz balístico que se associe àquelas armas) outra coisa era fazer a mesma estrada, no mesmo carro, no mesmo domingo solarengo com as mesmas pistolas e respectiva fiabilidade balística, às quais se acresceria toda a história, toda a cultura e o poder matraqueador de uma ak – 47 em versão búlgara.... Seria qualquer coisa digna de se ouvir nos próprios Cárpartos, ainda que deles estejamos tão longe!
Eis pois o difícil dilema do Clube Beretta 2000, cuja resolução teria necessariamente de ser encontrada a tempo de se poderem comer descansados, umas lulas grelhadas no restaurante “O Tasco” no Furadouro. Afinal, era Domingo e o sol não cessava de brilhar....

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