terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

proteccionismo

Há quem continue a dizer cobras e lagartos da globalização. De uma forma geral, é gente que ainda não se recompôs da queda ideológica sofrida há bastantes anos atrás, quando os sistemas políticos e económicos alternativos àquele que hoje é dominante, não sobreviveram à queda de um muro – ele próprio, símbolo há muito instituído da incapacidade dos sistemas comunistas e derivados, de propiciarem às populações que dominavam, senão a liberdade, pelo menos o bem estar social e económico, que as impedisse de se mandarem dali para fora.

Contudo, os ainda aduladores de quimeras totalitárias caídas em desgraça, ganham agora um outro e já velho conhecido aliado, para que se sintam ainda mais revigorados, no seu azedume radicalizado para com o capital. O novo protagonista – ainda que desprezando a argumentação cocktail molotov dos radicais anti-globalização – será seguramente um reforço de peso, para aqueles poucos radicalizadores que ainda se atrevem a esgrimir sequências gramaticais como argumento, em vez de, mais prosaicamente, se dedicarem ao vandalismo e à destruição urbana.

Aparentemente, a coberto da crise financeira, o proteccionismo, a autarcia económica, voltou a estar na moda e esse será o novo e grande aliado dos órfãos das utopias!

Primeiro, eram sinais que se adivinhavam e temiam (falhanço do Uruguai round), mas que se tornaram ainda mais escancarados, com alguns dos propósitos económicos da nova adminstração Obama – ele eleito pelo partido Democrático que, com D. Roosevelt e Harry Truman, tinha lançado as bases ideológicas e institucionais de um mundo partilhando valores democráticos comuns, assentes na prosperidade económica das nações, decorrente das denominadas vantagens comparativas em ambiente de comércio livre, conforme o aforismo económico clássico, desse judeu de origem portuguesa David Ricardo.

Não bastava assim, a denominada “buy american clause” pela qual a adminstração Obama, pretende circunscrever a aquisição de matéria prima aos Estados Unidos, deixando de lado todos os outros, nomeadamente os países africanos, para os avultados investimentos anunciados pela nova administração; nem bastavam os incentivos que a mesma Administração dará àqueles que optarem por manter as respectivas linhas de produção no seu país, renunciando a vantagens de alocação de investimento propiciadas por países terceiros; não bastava a revisão do denominado NAFTA e das respectivas relações com o Mercosul, visando a criação de um único mercado americano; nem bastava a nova guerra aberta pelo novo secretário de estado do tesouro com a China, a propósito da desvalorização artificiosa que o governo chinês sistematicamente opera (pelo dólar) da sua moeda, o yuan.

Sejam quais sejam os desenvolvimentos que o novo protecionismo assuma, uma coisa me parece clara: serão os países mais pobres e as respectivas populações (nomeadamente as agrícolas) que mais sofrerão com esta nova esquizofrenia económica das costas voltadas, pois serão eles que mais dificuldades sentirão em continuar a aceder aos mercados de maior rendimento, algo que, de uma maneira mais justa ou menos justa, sempre iria sendo permitido por um mercado verdadeiramente global. Se a crise mundial não ajudava, esta deriva proteccionista assumida pela nova Administração Obama, tornará ainda mais difícil a vida para aqueles países aonde o sedimento de uma certa desenvoltura económica, onde a qualificação e novos empregos, começava a tomar forma…

... não podem estar mais contentes os vândalos e os panfletários anti-globalização, pois simplesmente o que pretendem, é ver tudo aquilo que existe, pegando fogo!

2 comentários:

Anónimo disse...

A Globalização, tal como foi concebida, vai determinar o fim da Europa social que conhecemos.
O ocidente caiu na armadilha da Globalização que os Bancos e as grandes Companhias lhe venderam com promessas que desconheço: Não se trata apenas da crise criada pela especulação bolsista americana e pela não fiscalização das reservas de segurança da generalidade dos bancos e dos fluxos monetários com destino aos paraísos fiscais perdendo-se depois o rasto do dinheiro. Bancos e grandes Companhias visavam a obtenção de maiores lucros.
As companhias pretendiam aproveitar-se dos baixos custos de produção no extremo oriente, em virtude dos baixos salários e da inexistência de obrigações sociais, mas o resultado não será exactamente o esperado porque esses países têm ainda um baixo poder de compra e as produções destinavam-se sobretudo à exportação para o ocidente onde se encontram as populações com maior poder de compra agora em rápido declínio, fruto do descalabro da globalização .
Ao aderirem ao desafio dessa globalização, os países ocidentais e da União Europeia prometeram ao seus cidadãos que as suas economias se tornariam mais robustas e competitivas (não sei bem como) e não exigiram aos países do oriente que prestassem às suas populações mais e melhores condições sociais, como: regras laborais justas, melhores salários, menos horas e menos dias de trabalho, férias anuais pagas, assistência na infância, na saúde e na velhice para poderem aceder livremente aos mercados ocidentais. Não! o ocidente optou simplesmente por abrir as portas à importação desses países sem que essas condições fossem satisfeitas, criando assim uma concorrência desleal e “selvagem” da qual o ocidente nunca poderá ganhar. A única solução será a de nivelar as condições sociais dos trabalhadores ocidentais pelas desses países e que são miseráveis (crianças chegam a ser vendidas pelos próprios pais para servirem de escravos). O ocidente franqueou as suas portas a países que estão em rápido desenvolvimento tecnológico, com custos de mão de obra insignificantes e sem comprometimento com a defesa do ambiente, com tecnologias altamente poluidoras e por isso mais baratas.
É a um nivelamento por baixo das condições sociais dos trabalhadores ocidentais que estamos a assistir neste momento numa tentativa desesperada de resistir a uma guerra perdida. Daí a revolta que se observa nos vários países da UE. Mas será que os trabalhadores ocidentais vão aceitar trabalhar a troco de dois ou três quilos de arroz por dia, sem direito a descanso semanal, férias, reforma na velhice, etc...? Não! O resultado será um lento definhar em direcção ao caos e enquanto umas empresas fecham portas para sempre e outras se deslocarem para a China ou para Índia, onde não serão sufocadas pela concorrência desleal, mas mesmo essas terão que reduzir a sua produção. Entretanto, no ocidente a indigência, a marginalidade e o crime mais ou menos violento irão crescer e atingir níveis inimagináveis, apenas vistos em filmes de ficção ou referidos nos escritos bíblicos do apocalipse. A época áurea Europa e do ocidente será coisa do passado. Espera-nos uma espécie de nova “Idade Média”, onde restarão alguns privilegiados, protegidos por alta segurança, enquanto a maioria se afunda no caos: desaparecerá a chamada classe média e de remediados. Há que recuar mas será que ainda vamos a tempo?

Zé da Burra o Alentejano

fritzthegermandog disse...

Caro zé da burra:

a globalização é um dado incontornável e irrevogável... será injusta em multiplos sentidos, mas acredite que permitiu a criação de empregos e a qualificação profissional, onde apenas havia agricultura de subsistência!

Por isso hoje, o mundo capitalista é um combio amarelo!

Quanto ao fim da europa social tal qual a conhece e conhecemos, pois não tenha dúvida que a mesma acabou, finito, kaputt! Ou julga que é a europa social, e os europeus envenenados pela artrite e a osteoporose, que vão ditar as linhas económicas com que se vão coser a china (1/6 da população mundial) a índia, o japão, a indonésia, as coreias, o vietname, a tailândia, ou os Estados Unidos, ou a arábia saudita?

Nós e a nossa mania de acharmos que nós é que somos os inteligentes, redunda na atitude típica que o excelentíssimo zé da burra espelha: meter a cabeça na areia e proclamar pela europa social, quando ela hoje, apenas consegue apoiar em bengalas!!

E olhe que acender velas ao proteccionismo económico, apenas acentuará a nossa queda de rendabilidade e naturalmente a da europa social que tanto proclama - como sabe não se fazem omoletes sem ovos...

saudações ao alentejo,

cumprimentos para si e para a burra!