domingo, 30 de abril de 2006

RUA

quinta-feira, 27 de abril de 2006

portugal o norte e portugal


por Miguel Esteves Cardoso.
Primeiro, as verdades. O Norte é mais Português que Portugal. As minhotas são as raparigas mais bonitas do País. O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela. As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas. Mais verdades.
No Norte a comida é melhor. O vinho é melhor. O serviço é melhor. Os preços são mais baixos. Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia. Estas são as verdades do Norte de Portugal. Mas há uma verdade maior. É que só o Norte existe. O Sul não existe. As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, etc, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta. Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte. No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista? No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.
Não haja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte é onde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.
Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular. É esta a verdade. Lisboa é bonita e estranha, mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte.
Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa. O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade. Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.
As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.
Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos.
O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente. No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os-Montes, se é litoral ou interior, português ou galego?
Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar. Como nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem atrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?
igreja de santa luzia - viana do castelo

HMB

“Metira” – Mentira
ex: “É Metira!”

“Ópois” – Depois
ex: Ópois niquei-me.”

“Inquiasa” – Em Casa
ex: “Bou estar inquiasa.”

“Iágua” – Água
ex: “chegainde-me a’ iágua.

Abais?” – Onde/Já vais?
ex: “Abaias?”

“Bagar” – Tempo / calma / paciência
ex:“Não tenho bagar pr’o futebol!”

Fraco” – Mau
ex: “Aquela gaja é fraca! É má como as cobras.”

Com nós” – Connosco
ex1 sing. “Ele vai com nós.”
v
ex2 plur."Ele vai com nozes."

Táiquetos” – Estejam quietos
ex: “Porra p’á canalha que não táqueta”

Esperem só mais um bocadinho de tempo, que eu já escrevo...

quarta-feira, 26 de abril de 2006

os diários de chalana

“... das coisas absolutamente irrepetíveis, há quem não queira fazer caso. Há quem não queira acreditar que o jeito nos pés, a magia que faz, ora rodopiar, ora entrelaçar uma bola, não depende do vigor com que nos possa crescer um bigode – por muito vigoroso que ele se revele – nem depende das imitações baratas e muito pouco rigorosas dos cortes de cabelo, arquitectados pelo saber estético do barbeiro da aldeia a que acresceu uma inspiração de pénalties e bagaço. Ás aproximações, às tentativas de repetir o irrepetível, eu costumo dizer que, antónio violante chalana só houve um e haverá apenas um, porque o que existiu para lá do cromo – a tridimensionalidade do empenho rebaixado na condução da bola, o pequeno salto depois do golo, a finta irrepetível que deixou o adversário pregado ou estendido – serve apenas os predestinado, e não os seus aspirantes, por muito bem que até possam ficar na fotografia.”


In “Diários de Chalana” volume XIX (reflexões)

Edição da Câmara Municipal do Barreiro

sábado, 22 de abril de 2006

Não, Não e Não

- Já te disse que não, Frederico. Não vou posar para ti... Nem que fosse para a capa d’”A Bola”.

Frederico Martins "[...]No final do mês, será o primeiro fotógrafo português a captar a capa da revista de moda Cosmopolitan."

Fotografia de Frederico Martins - menção honrosa
do prémio da revista “Visão”.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

o que será feito de...

Lancia "da Martini"

os diários de chalana


“... o octávio sempre tivera semblante de sarrafa, embora, reconhecidamente, houvesse jeito naqueles pés. Contudo, não havia jogo em que não murmurasse e não se pusesse a balbuciar que sabia onde estivéramos e o que disséramos dele e do pedroto, do gomes e do rudolfo e dos outros todos. E depois dizia que também sabia em que esquinas de alfama e do bairro alto parávamos os carros, quanto pagávamos e quem metíamos lá dentro, as solteiras e as casadas. Andava o jogo nisto, que nos sabia os carros, as boites e os hotéis de lisboa para onde levávamos as putas e os engates e quem ainda do benfica, limpava seis riscos de cocaína. Uma vez, no estádio da luz, preguei-lhe semelhante bicanço e pisei-o nas partes baixas, que o homem lá teve que sair de maca. Eu, óbviamente não fui expulso, mas também já ninguém o podia aturar ... “.

In “Os Diários de Chalana” volume VIII (1978/1980).
Edição da Câmara Municipal do Barreiro - 2005

O "NOSSO" PAÍS, A "NOSSA" TERRA

Estando à espera de um registo predial que efectuei no dia 10 de Março último, na passada segunda-feira telefonei para a respectiva Conservatória do Registo Predial de Santa Maria da Feira, e informaram-me que estavam a fazer os registo de 8 de Março. Pensei para comigo, mais um dia ou dois.
Hoje, sexta-feira, o mesmo telefonema, exactamente a mesma resposta, estão a fazer os registos de 8 de Março.

Estando à espera de uma Licença de Utilização de um imóvel que requeri, dirigi-me na passada segunda-feira à nossa Câmara Municipal, ondo obtive a resposta de que o documento se encontrava pronto, apenas faltava o carimbo. Está nos Carimbos, foi a informação.
Hoje, sexta-feira, dirigi-me novamente à Câmara Municpal, e ouvi a mesma resposta, está nos Carimbos.

Estou farto.
Este "nosso" país (para não me acusarem de falta de patriostismo), não tem saída.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

os diários de chalana


"... sim amigo, eu permanecerei um ícone, uma referência. Ainda que jogando, empenhando-nos de encarnado, correndo com os braços abertos, os punhos fechados, controlando a bola, sujeitando-nos ao risco de por amor ao clube, trilhar os tomates em calções curtos e cintados, não houve finta que inventássem, pítons de alumínio que chegassem para apagar ou esmorecer esta memória. É a composição estética da minha aparência, o empenho artístico que nela pus, que me garante ainda puder encher estádios, os salões da televisão no canal memória. Há bigodes que sempre duram e que o eterno não desfaz ....".


In "Os Diários de Chalana" volume V (1975/1976)
edição Câmara Municipal do Barreiro

NÃO É PARA LEVAR À LETRA!

Travessa de Cedofeita – Porto

quarta-feira, 19 de abril de 2006

30 e picos...


É de opinião que os adolescentes são criaturas insuportáveis que não se vestem, mascaram-se.
As Queimas do seu curso "é que eram...".
Desde há uns tempos para cá abandonou as rodadas de shots por um bom Muxagat Douro.
Há comidas que lhe "caem mal".
Já deu por si a pedir e desejar saúde nos brindes de Reveillon.
Já sabe aquilo que é verdadeiramente importante na vida.

terça-feira, 18 de abril de 2006

Câmara e Tolerância de Ponto Pascal

Ontem, enquanto passeava pelas ruas da nossa cidade, fui surpreendido por uma comunicação do Presidente da Câmara Municipal. Ao abrigo da alínea a) do nº 2, do art.º 68 da Lei 169/99, de 18 de Setembro – “Compete […] ao Presidente da Câmara Municipal decidir todos os assuntos relacionados com a gestão e direcção de recursos humanos afectos aos serviços municipais” – o Presidente decretava tolerância de ponto na segunda-feira, dia 17 de Abril, justificando com a tradição Pascal Feirense, onde em muitas freguesias a visita Pascal se realiza nesse dia.

“Que interessante!” – pensei.

Por um lado, eficiência e produtividade são palavras que apenas se aplicam aos privados. No funcionalismo público estas palavras são conceitos que nunca se aplicam. No mínimo dever-se-ia assegurar que o cidadão teria à sua disposição todos os serviços. No mínimo…

Por outro lado, num Estado laico os Feriados Religiosos apenas se justificam através da Religião dominante e da Tradição. Se vamos criar a tradição da tradição, não há dias do ano que cheguem para feriados.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

AS MULHERES E OS SACOS

Será o saco o acompanhante preferido das mulheres? Com todo o respeito mas parece-me que, chegando a uma determinada idade, há objectivamente uma tendência para as mulheres se fazerem acompanhar por sacos. E falo de sacos que não são o resultado directo de uma compra, embora ostentem preferencialmente uma marca conhecida e cara, mas daqueles que servem de extensão à carteira. Obviamente, encontram-se excluídos desta realidade, os sacos das grandes superfícies! Esses, na melhor das hipóteses, servirão única e exclusivamente para o lixo, que é sempre um final digno destes últimos. Os outros - os que alegremente acompanham as senhoras - para além da valência principal, dão muito jeito para outras realidades próprias de um dia-a-dia, como são exemplo: o encosto vigoroso dos mesmos a quem rodeia, de forma a marcar o metro quadrado da portadora do mesmo; até à tradicional marcação, com os já citados, do local onde se vai sentar para almoçar/jantar, muito comum nos centros comerciais.

Uma realidade que, embora não se aplique à globalidade das senhoras, aplicar-se-á a uma grande maioria.

Sacos e mulheres, mulheres com sacos, sacos com mulheres, sacos e mais sacos, mulheres e mais mulheres com sacos e sacos… e… mulheres… sacos…

Pergunto: O que é que levam lá dentro?

sábado, 15 de abril de 2006

EXPRESSÕES

Que ficam bem ao povo: “Derivado a ”

…e ao pseudo-intelectual: “Transversal a”

quinta-feira, 13 de abril de 2006

o que será feito de...

tahiti douche

CARL CRAIG


Amanhã, no trintaeum.
Talvez seja pertinente referir que Carl Graig remistorou, entre outros, temas de Cesária Evora.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

JOSÉ GONZÁLEZ

Não se deixem enganar pelo nome, o artista é sueco!

Se puderem, e tiverem com disposição, aconselho o visionamento em alta resolução. Demora um pouco mais mas julgo valer a pena!
Penso que reconhecerão o anúncio.

Heartbeats: High - Low

terça-feira, 11 de abril de 2006

SALVEM OS PEDINTES!

Todos os dias da semana, para ir trabalhar, perco sensivelmente 15 a 20 minutos nuns semáforos do Porto. São tempos mortos em que a maior parte dos automobilistas aproveita para pensar na sua vida, no dia que vai ter pela frente, mulher, filhos, e em que eu aproveito para recordar a cama quentinha que deixei e que já faz parte das boas recordações do dia. No entanto, ultimamente esses momentos tão introspectivos na vida de um automobilista, têm sido sistematicamente interrompidos por um sem número de iniciativas, que nos vão confrangendo à medida que nos aproximamos dos semáforos. No meio das duas filas de trânsito que se formam, deambulam vários indivíduos, que nos 2/3 minutos que o semáforo demora a mudar, massacram os automobilistas, com os mais diversos pedidos e/ou ofertas, a maior parte destas, infrutíferas. Tome-se por exemplo a passada sexta-feira: contabilizei dois indivíduos a entregar os jornais gratuitos do costume, mais uns cinco a distribuir panfletos dum empreendimento qualquer (dois a abanar umas bandeiras; outros dois a distribuir os panfletos e mais um a fotografar aquela cena toda). Mais! Não sendo o quadro suficientemente confuso, ainda lá estavam os bombeiros a vender rifas a 25€ cada. Completamente surreal!
Sendo estes locais, o espaço óbvio para os tradicionais pedintes, assisto à destruição do “ecossistema” deste grupo social. Afinal, todo o nicho de mercado ou espaço, por mais ridículo que possa parecer, tem de ser aproveitado!

Fico com saudade dos tempos em que éramos importunados pelos pedintes! Com esses, pelo menos sabíamos ao que vinham…

segunda-feira, 10 de abril de 2006

x-wife


Estando já longe os tempos das noites Kitten no Sá da Bandeira, nada se perdeu. O fundamental é ouvir da ex-mulher "side effects", depois de em 2003 esta ter andado a alimentar a máquina (inclusive no antónio lamoso, privilégio rocktaract). Ping-pong rocks!

domingo, 9 de abril de 2006

sábado, 8 de abril de 2006

clube beretta 2000 - os diários

Parte I: introducing joca talhante

Passara a haver um lugar no Clube Beretta 2000 que se tornava necessário preencher, agora que o alfredo da tijuca se tinha de uma vez mandado para a Ucrânia, correndo o sério risco de lá chegando, lhe darem uma traulitada e o desmontarem como fazem aos legos (sendo mais gravoso o facto de, se o voltassem a encaixar às peças, isso já de nada lhe adiantar).
Esta ausência motivada pela concorrência directa do tráfico de órgãos internacional sobre as actividades que desenvolvíamos, foi de alguma maneira bem-vinda pelo resto de nós, pois já ninguém podia aturar o alfredo da tijuca a tirar medidas a quem passava, catalogando-as segundo morfologias físicas constantes de um quadro com que se fazia acompanhar e depois extrapolar sobre o preço a que poderia vender os rins e os pulmões no mercado. A essas sindicâncias físicas e extrapolações, imputava o alfredo da tijuca sempre a respectiva margem do lucro, que como pudemos perceber, poderia ser substancial. Assim, qualquer coisa que fosse do tijaquim das malotas (apesar de ser mais fácil surrupiar-lhe os órgãos, atento o seu estado de embriaguez permanente) isso de pouco valeria num mercado com sérias restrições ao consumo de álcool – por exemplo, as democracias nórdicas – mas já poderia valer de alguma coisa precisamente na Ucrânia ou Bielorússia , já que a cirrose aí, constituí apenas mais um modo de vida que concorre com os outros. Agora se considerássemos indivíduos como o razz ou o biela, indivíduos limpinhos, alimentados com as vitaminas e as laranjas que crescem nas árvores do quintal e a gordura do porco criado em casa, isso teria colocação em qualquer parte do mercado mundial e a bom preço, logo com uma margem significativa.
Esse convencimento no lucro fácil chegara a levar o alfredo da tijuca a propor ao razz, por uma boa maquia, a prescindir de uma vida com dois pulmões e dois rins – ficaria com um deles de cada lado, pelo menos para manter o equilíbrio. O razz, impulsivo, pregou-lhe um murro no focinho sem mais, e disse-lhe para ter cuidado na Ucrânia, não fosse um dia estar o alfredo da tijuca a prescindir de outras partes do corpo, permitindo, para sobreviver, a sua frequência a desconhecidos. Meio atordoado, o destinatário do aviso não deve ter chegado a perceber...
E assim era, atento aquele lugar para o qual se procurava um dono, que me encontrava presentemente no talho de Fornos para trocar impressões com joca talhante, uma vez por ele despachada a clientela. Por ora, ela não era muita: eu e um casal de namorados que se encostara ao balcão e que logo desancara na marmelada, enquanto o Joca talhante limpava os cinco bifes da vazia e cortava os peitos de peru que antes lhe haviam pedido, voltando eles por uma vez mais aos apalpanços e à mão no presunto, depois de acrescentarem meio quilo de costeletas de porco e entremeada ao pedido. Por fim, mais quilo de carne picada de primeira. E por incrível que tal possa parecer, havia alguma sofreguidão naquele roço inusitado e que se prolongou por todo o tempo do avio. Eu sentia-me a metade de um porco desmanchado, frio, pendurado num gancho e assistindo àquela desconformidade, sem que contudo o joca talhante mostrasse pelo episódio algum incómodo. Afinal, deveria ser clientela habitual e cuidar da carne era o seu ofício. Felizmente, carne picada, bifes da vazia, peito de peru, costeletas e entremeada era tudo aquilo que, para já, esses libidinosos do talho pretendiam. O que fariam depois com tanta carne, não é da minha conta.

clube beretta 2000 - os diários

Parte II: afiando as facas

Não fizéramos qualquer menção ao presenciado quando nos cumprimentamos. Havia já algum tempo desde a última vez que me demorara à conversa no talho de fornos com o joca talhante, e ele entusiasmou-se com facto de estar ali com algum tempo para a conversa.
O joca é tipo que engana. Ele não se circunscreve à ciência do corte ou à matança do porco e a usar para o efeito, os aventais cobertos de sangue e uma luva de malha metalizada. Como de resto imaginava, depois de afiadas as facas e algumas trivialidades, estabelecera-se um novo patamar de conversa: “sabes X., no outro dia passava por cedofeita e reparei em algo lapidar inscrito nas paredes. “O cidadão – essa coisa pública – mata o Homem”. Caro X., isso não mais me saiu da cabeça pelo resto do percurso pela rua do Breyner e pelo tempo que passei espreitando as galerias da rua da Boa Nova e de Miguel Bombarda. Ainda agora tal me lateja da mesma forma na cabeça. O racionalismo filosófico e a sua expressão concreta, humana e temporalmente situada, a que designaram por cidadão (nesse brilhantismo filosófico dos séculos XVII e XVIII, ainda tratado como criatura de Deus!) foi posteriormente objecto de um primeiro abastardamento mecanicista de inspiração Comtiana, cujo programa sociológico se permitia considerar como possível, reduzir esse mesmo indivíduo – agora, simples cidadão e jamais criatura de Deus! – a bases experimentáveis e sobretudo condicionáveis!”.
O joca talhante recolheu duas pesadas facas de lâmina larga, afiou-as uma na outra e desatou a seccionar partes de frango, usando de enorme veemência física nos golpes. Depois prosseguiu: “Essa fé monstruosa na ciência e nos seus métodos, que constituiu a primeira ofensiva sobre a verdadeira natureza do Homem, foi depois agravada pelo disseminar de um delírio colectivista, económica e filosoficamente assente nos ensinamentos de marx e engels, e que fez estabelecer toda uma nova dimensão de possibilidades, que dificilmente se compreende: o cidadão e o Homem que nele restava, individual e sociologicamente condicionado pela metodologia Comtiana, poderia depois a um nível diverso, ser motivado e dirigido como massa acrítica e indistinta, ao estabelecimento de uma sociedade de cariz colectivo e desprovida de classes, manobrada assim no sentido de para sempre eliminar privilégios. O Homem - a criatura de Deus –havia sido transformado pelo racionalismo em cidadão, e depois em ser alheio a qualquer religião que não a do Estado e seus fins, pela ciência, fosse ela de inspiração sociológica ou socialista.”
O trabalho algo ensurdecedor de desconjuntar na tábua, unidades antes nomeadas como frangos, havia sido de igual modo finalizado pelo joca e tal deve ter inspirado o seu remate final: “X., do Homem, do indivíduo, das possibilidades de expressão e de vida que ele encerra como ser vivo e como criatura de Deus, já nada resta. Qualquer um de nós que não se resigne a este enquadramento previamente escolhido, que nos é imposto em todas as dimensões pelo Estado, não faz outra coisa senão esbarrar em paredes. O propósito já não é nosso, ele apenas será permitido se prosseguir ou se se enquadrar naquilo que são os interesses do Estado e seus fins. Se calhar, num futuro, nem na morte poderemos ser verdadeiramente livres: é que eles já andam atrás do meu e do teu património genético!”
Para mim o joca talhante estava contratado. Nada mais seria necessário, o lugar preenchido. Comprar uma pistola Beretta era o esclarecimento e o pormenor que faltava.

GOSSIP

Standing in the way of control

sexta-feira, 7 de abril de 2006

LÁ POR FORA 2


Coisas de que sentimos falta em Portugal quando vamos a certos países europeus.

O civismo, a ordem e a segurança.

A pouca policia na rua; a "confusão" de pessoas, bicicletas, carros e transportes públicos, cada um deles com os seus semáforos, a funcionar na perfeição; a limpeza e certos pormenosres nas vias públicas que indiciam um civismo que em Portugal não existe.

FUI NOVAMENTE AO DENTISTA ...

...e passei na Travessa de Cedofeita:

“O CIDADÃO – ESSA COISA PÚBLICA – MATA O HOMEM!”

“AS GRANDES RESOLUÇÕES TOMAM-SE NA RUA.”

“VAMOS JUNTAR O BANDO E FAZER AQUILO?”

“OS GRANDE ANALISTAS ESTÃO NA RUA.”

“O MEDO DE SER LIVRE PROVOCA O ORGULHO DE SER ESCRAVO…”

quinta-feira, 6 de abril de 2006

LÁ POR FORA


Assistir a um jogo de futebol no estrangeiro permite ter uma visão mais real de certos hábitos de culturas diferentes.
Sendo certo que a paixão pelo desporto é a mesma, grita-se, apoia-se, insulta-se (penso), e tudo o resto que qualquer ser humano apreciador de futebol normalmente faz.

Mas depois, há certas coisas que devem ser peculiares de determinados povos, como foi o caso.

Assim,
- os bilhetes para o futebol, numa partida entre as duas melhores equipas de dois países numa competição regional, compram-se na porta de entrada.
- nesse mesmo jogo, a cerveja é bebida com fartura, mas fartura mesmo, acompanhada de ... pipocas. A Carlsberg deve ser mesmo a melhor cerveja do mundo.
- ainda nesse jogo, o hino do país da equipa visitante é assobiado do princípio ao fim.
- e por último, um fumador que incomoda um não fumador com o seu cigarro na bancada, é-lhe solicitado simpáticamente por dois stewars que se retire para outro local.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

terça-feira, 4 de abril de 2006

APLICAÇÕES DE RISCO

Não raramente, quando vou almoçar ou quando saio do trabalho, sou abordado por um individuo que sistematicamente se dirige a mim e solicita:

- Empreste-me dois euros!

Eu, dada a peculiar insistência na abordagem, não resisti a perguntar:

- Garante-me o capital investido?

Ele respondeu:

- ...? então um euro!

Fui obrigado a dizer que não! Nos dias de hoje, uma aplicação que não garanta o capital investido, não é um bom investimento… quanto menos uma, que apenas garante metade!

sábado, 1 de abril de 2006

ESTE ANO: FÉRIAS NA JAMAICA!


Viva a eléctrica nacional!