sexta-feira, 2 de junho de 2006

samplado


Santa Maria da Feira, 02 de Junho de 2006.

Caríssimo e prezado jam:

Poder-lhe-á parecer estranha esta outra forma de comunicação pela qual lhe faço chegar uma surpresa. Contudo, o papel e a caneta obedecem a um propósito claro. Efectivamente, nos dias que correm sentar e escrever cartas usando tais artefactos parece um exercício de loucos. Na sensação que nos causa - ou na sensação que causa em outros, que apenas a podem imaginar - deve ser mais ou menos semelhante àquela de vermos, nos filmes, gente a usar máquinas de escrever, ou a atender os telefones que tocavam ruidosamente, num local determinado da residência. Qualquer boa cena num filme desses outros tempos, envolvendo telefones, começaria sempre com um plano aproximado do mesmo, tocando furiosamente durante intermináveis segundos, e cujo desamparo ruidoso na divisão da dita casa (que percebíamos sempre ao fundo) era interrompido pelo braço de alguém levantando o auscultador, que a câmara passava depois a acompanhar no movimento de o levar ao ouvido, altura em que tomávamos conhecimento da personagem que atendia e do potencial equívoco que desse modo se instalava no enredo (do outro lado, alguém perturbado mas em profundo silêncio pousava por sua vez o auscultador, sem responder às constantes interrogações desse outro que atendera: “Hallo?” “Hallo?”).
Tudo isto prezado jam – papel e caneta incluído – para lhe recordar aquela outra polémica em que me vi envolvido no blog para o qual modestamente contribuímos, a propósito de um post sobre lloyd cole e do facto de o mesmo ter agendado um espectáculo para a Baixa da Banheira, depois da respectiva actuação em Santa Maria da Feira - um retumbante sucesso, como pudemos perceber. Não é a ela que pretendo agora regressar (à polémica). Lembro-me apenas que tendo nela o caríssimo jam adoptado uma posição mais ou menos neutra (de resto nunca fora fã de Mr. Cole), termos ambos concordado que aquilo que musicalmente melhor poderia acontecer ao caríssimo lloyd cole, seria ser samplado e sequenciado por um qualquer bom DJ de serviço (o que a grande maioria dos outros interlocutores terá achado estranho). Pois olhe o que eu acabo de descobrir: embora não sendo exactamente aquilo em que ambos estaríamos a pensar (samples, DJs e sequenciadores) há agora uma rapaziada de Glasgow (curiosamente, cidade onde antes de ser músico o Sr. Lloyd estudou filosofia) que tendo formado uma banda pop de nome Câmara Obscura (literalmente) acabou de lançar um single ”lloyd, I´m ready to be a heartbroken” numa clara alusão a um outro e antigo single de Lloyd Cole and the Comotions, que por sua vez perguntava como título de canção “Are you ready do be a heartbroken?”
O que se torna inusitado mas manifesto em tudo isto, ainda que passando ao lado de DJs e do sampling, é descobrir que se leva já suficiente tempo na Terra para que uma outra geração comece a achar inspiradora o conjunto de tralha a que prestaras atenção quando adolescente e olhe para ela com a mesma sensação com que a minha geração olha agora para as máquinas de escrever!! Talvez também eu comece também a precisar de ser samplado. Há para o efeito, algum DJ de serviço? Irei indagar na DFA ou na Compost. Recomenda Rainer Trüby?

Com os melhores cumprimentos,

Fritz

1 comentário:

JAM disse...

Caro Fritz,

Se sente a necessidade de ser samplado/remisturado, (quem não o sente!) mais importante do que escolher o artista para o fazer, é saber com o que quer ser misturado.

No caso do meu caro amigo, julgo que a melhor combinação que o descreve resulta da junção do jazz à electrónica. Neste caso, para o efeito, muito humildemente aconselho, Cristhoffer Berg , A.k.a. HIRD!

Um abraço