quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

clube beretta 2000 - os diários

o encontro com o major - parte II

Quando, de arma em punho, rompemos pelo seu gabinete, o major estava à secretária...
Por breves instantes todos permanecemos imóveis, gelados, mas na cara do major percebi aquele arrepio que percorre a espinha e que deve ser também comum aos porcos, quando eles se percebem encurralados, adivinhando o desmanche. Por norma, estes compreendem que não havendo fuga possível, o que lhes resta é grunhir e fugir pela lama enquanto alguém os tenta parar, segurando-os pelos presuntos. O major, contudo, surpreendeu-nos. Usando da sempre bem-vinda subtileza saloia e talvez, fazendo-se valer de alguns conhecimentos de táctica militar, num impulso que deve ser característico dos veteranos da guerra, saltou/pinchou procurando abrigo atrás de uma outra secretária e por ali permaneceu. Pensei: os majores devem ser indivíduos de recursos insofismáveis. Não há nada que os paralize, nem quatro pistolas mirando-lhes o focinho. De qualquer forma, o razz entrara já em monólogo: “Sabe senhor major, o senhor não nos conhece, nem saberá igualmente quais as nossas preferências clubísticas, se alguma. Também o propósito que aqui nos trás, nada tem a ver com tais assuntos, nem com demonstrar de uma forma mais veemente a nossa discordância com a nomeação do Senhor Lucílio Baptista para qualqurr modesto jogo da liga, ou com o castigo aplicado ao Macarthy pela cotovelada no Rui Jorge, que diga-se de passagem, é absolutamente ridículo. O nosso propósito aqui é outro e fundamentalmente nobre, relacionando-se directamente com a lógica e a preservação fonética na modalidade que dirige. Sabe senhor major, nós somos de Fornos e como deve imaginar Fornos não é a América...” . Pelos vistos, alguma razoabilidade começava a fazer-se notar nos circuitos cerebrais do razz, mas entretanto eu havia-me dispersado pela montra de troféus que se exibia a um canto do gabinete. Constatei que o Afifense Futebol Clube havia sido segundo classificado no campeonato distrital da II divisão de Viana do Castelo, que a Associação Desportiva de Estacamos havia arrebatado o torneio triangular da Pontinha e que o Eusébio havia doado as caneleiras com que tinha jogado num particular em 1973 entre um misto da selecção nacional e o Alenquer (pelo menos, era isso que se dizia na placa comemorativa, agrafada nas ditas caneleiras). Estava eu imerso nestes vestígios de história desportiva da modalidade enquanto o razz prosseguia matraqueando num monólogo, quando, num instante, somos brutalizados por um cheiro nauseabundo... Atrás da secretária, o homem, o cidadão, o major, o dirigente desportivo havia-se borrado nas calças....

2 comentários:

JAM disse...

Caríssimo,

Muito bom!

Neste fim-de-semana ficarei atento às rádios e televisões deste nosso país, tentando perceber até que ponto a vossa justiça fonética produziu efeitos.

fritzthegermandog disse...

Caríssimo jam,

sendo certo que a esperança é a última a morrer, sempre é melhor nunca a ter em demasia!

abraço!