quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

O meu clube beretta


Éramos poucos. O quim barbeiro, o biela, o razz e eu. O alfredo tijuca juntar-se-ia mais tarde, quando passássemos ali, pelos dezassete. No mais, não interessava que fossemos assim tantos quanto isso. O que fundamentalmente nos interessava, era um bom começo. Clube Beretta 2000.
Entramos no carro. O razz que sempre teve a mania de emprestar um ambiente épico e algo vertiginoso às coisas que fazia (eu diria que é nos filmes que pensa) trouxe o último álbum dos White Stripes, “Get Behind Me Satan”. Creio que sim, que está correcto. Quando arrancamos, fizémo-lo ao som de Blue Orchid, boa malha, que bem ilustraria o arranque do artista principal, filmado com um ar decidido dentro de uma viatura exclusiva e reluzente. O problema do razz é julgar que isto é a América. Não é ... é Fornos... E se dentro do carro todos poderíamos parecer uns duros com o ar decidido das estrelas de cinema ( o ford escort penso que não destoaria, muito embora todos ficássemos muito melhor dentro de um mustang) o certo é que toda essa artilharia convocada pelas nossas cabeças, ficava estragada assim que olhávamos para fora e percebíamos aquele ar suburbano das batatas, que resulta do cruzamento de uma ruralidade manifesta, com elementos de um urbanismo colorido de mau gosto e absolutamente desconexo. Não. A América ficava ainda longe e nós seguíamos às curvas por Fornos. A felicidade da vertigem americana, pela qual gostaríamos de estar envolvidos neste nosso propósito inaugural, apenas a poderíamos ouvir em Blue Orchid: “you´ve got a reaction, you´ve got a reaction, didn´t you ? ...”
Se fosse apenas pela música (e pelo escort de 1987, do biela) diria que o Clube Beretta começava auspiciosamente, quase magnificamente, ainda que desprovido do cenário cinéfilo das intermináveis avenidas nova-iorquinas, ou do deserto que antecede Las Vegas (esta cena, definitivamente, não se passava aí). De qualquer forma, os pais natal ainda pendurados, ainda balançando ridículos e irritantes por essas janelas e varandas fora, que temessem e estremecessem pelo respectivo fim. O nosso entusiasmo ensurdeceu-nos quando subimos numa vertigem, a avenida da biblioteca (tal como nos filmes!) e à minha Beretta Vertec 96, levava-a já segura pela mão, ainda que de patilha de segurança engatada. Em breve aos pais natal, só os veríamos estatelados pelo chão em carnificina. Culpado? Clube Beretta 2000.
" You´ve got a reaction, you´ve got a reaction, didn´t you ?..." Isto, seguramente, não é a América, mas Fornos, também não faz muita questão em saber... Hit it razz! "You ve got a reaction, ..."