sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

clube beretta 2000 - os diários

Fornos, 13 de Janeiro de 2006.

Serão alguns parágrafos de reflexão filosófico-política, que poderão, para muitos, parecer estranhos. À nossa volta nada existe de sofisticação metafísica, nenhuma militância filosófica ou peregrina nos condiciona no dia-a-dia e não frequentamos corredores e mesas de café por onde caminham e se sentam cabeças bem-pensantes, expressando uma urbanidade insuspeita de gosto e de ideias. Isto é Fornos e pode parecer estranho que nesta existência suburbana, neste eremitério de couves e batatas e edifícios desconexos, exclusivamente marcado pelo esforço do trabalho e alguns excessos de fim-de-semana, se possam ver discutidas, de forma estruturada, questões relativas à organização política, respectivos sistemas e fundamentos.
O razz foi a estrela com quem, todos, de forma mais ou menos conformada, acabamos por concordar. Considerada em reunião alargada a proposta formulada por F. (que conforme dei nota nas páginas anteriores, consistiria na eliminação de personalidade presentemente empenhadas na renovação e futura representação da república) o ponto de partida no Clube Beretta começou por ser a seguinte interrogação: que justiça poderá derivar de uma bala?
Para os condescendentes e filosóficamente rousseaunianos é antes e imediatamente a heresia que de tal interrogação resulta. O Homem – enquanto ser racionalmente determinado e por isso, a todo o tempo capaz da equidade – jamais poderá afirmar a justiça disparando balas.
Foi por isso estimulante constatar que no Clube Beretta 2000, nenhum de nós partilha essa visão condescendente da natureza humana. Afirmamos um princípio antropologicamente pessimista do Homem, de que ele, independentemente de todo o racionalismo, é sempre capaz do bem e do mal e de que essa infinita constatação, é inerente à sua essência. Eis-nos assim em constatação filosoficamente Hobbesiana, enquanto a tia-avó do biela (que, obviamente, ninguém quis beijar!) passava cada vez mais mirradinha e desfigurada, de sarapilheira e sachola às costas. Ora, se o Homem é sempre capaz do mal e se a confrontação com este se revela sistemática, então, consideradas circunstâncias particulares, alguma justiça (senão toda!) poderá ser afirmada pela bala! Assente a base filosófica da discussão, faltava discutir se tais conclusões teriam algum interesse prático no que concerne à república e aos candidatos republicanos e aí, o razz, estabeleceu o raciocínio pelo qual seria oficiosamente determinada a nossa posição: à república, de nada adiantariam seis balas! A conclusão impunha-se na medida em que a referida república fazia temporalmente precipitar todo o sistema político numa disputa partidária, sobre algo que (esse era o entendimento de razz) deveria ser essencialmente agregador. Determinada esta auto-flagelação republicana, entendeu-se escusado um esforço no sentido de levar alguma justiça ao republicanismo decadente, sujeitando o ford escort de 1987 às campanhas eleitorias. Creio que também, nenhum de nós arranjaria a paciência para tanto, ainda para mais, quando aguardo uma sopa de legumes e mão de vaca... agora, à república, só a ira de Deus valerá!