quarta-feira, 3 de maio de 2006

a pergunta

Não haverá outro enquadramento para os próximos anos que não passe pelo crescimento económico, com acentuado desemprego. O problema da economia portuguesa é estrutural, prende-se com o patamar de qualificação do seu tecido produtivo – assente numa tipologia de mera transformação de matéria prima, sem valor acrescentado e logo com escassos índices de utilização tecnológica – pelo que a sua alteração (uma necessidade competitiva!) deixará de fora muitos daqueles que não chegaram a adquirir competências para integrar essa outra base na qual se pretende ora assentar o desenvolvimento produtivo de Portugal.
Assim o máximo a que poderemos aspirar é, ou a estagnação/desemprego, ou o pouco desenvolvimento/desemprego.
Sendo o desemprego o factor constante, ele acarretará uma radicalização do discurso político à esquerda, radicalização essa que muito tem vindo a ser capitalizada por Jerónimo de Sousa e que sofrerá de igual modo, uma outra investida pelo BE, que procura proletarizar a imagem (sentando um electricista na AR), agora que a demagogia política protagonizada pela respectiva clique urbana bem vestida e bem pensante, já deu o que tinha a dar (também já não havia paciência!).
A pergunta tem pois a ver com o centro político, o meio ideológico que dominou com mão férrea os 30 anos de democracia que trazemos, de inquestionável e hoje insustentável inspiração social-democrata: que consequências dessa radicalização política decorrem para PS e PSD e para as respectivas expectativas de poder, agora que terreno fértil haverá para CDU e BE e que o desequilíbrio ideológico será indubitavelmente favorável à esquerda (para quando também alguma frescura e novidade ideológica no país, pergunta-se)?
O problema não se coloca tanto para o PS que tem e sempre teve alguma capacidade de adaptação, e chegou mesmo a navegar nalgum do recente radicalismo esquerdista (veja-se o caso de Ferro Rodrigues, que chegou a equacionar uma aliança com o PCP).
Os problemas poderão ser mais significativos para o PSD. A inspiração liberal que ainda diz ostentar – resta saber aonde - obrigaria a uma tentativa de corrigir e reequilibrar politicamente o país recentrando-o à direita. Contudo, todas as tentativa que o PSD levou a cabo no sentido de assumir um discurso ideologicamente mais próximo do que se entende por direita (e isso também apresenta algumas dificuldades!) implicaram não só uma hostilização do CDS, mas sobretudo, a perda de apoio eleitoral ao CENTRO e logo, a perda automática de poder. Por aí, o caminho revelar-se-à sempre difícil para o PSD, pois perderá necessariamente a metade do que tem sido a sua face histórica (traduzida, por exemplo, nos 18% de eleitores de Cavaco Silva que votaram PS em 2005 e que traduz a mais absoluta identidade sociológica e de propósitos entre ambos os partidos).
Apesar de tudo o que se disse poder parecer conjectural, uma coisa resulta manifesta: a radicalização do discurso será cada vez mais acentuada (atentas as razões estruturais indicadas no início) e sê-lo-à em benefício da esquerda, sobretudo da radical, que chega a ver como potencialmente interessantes, modelos de actuação próximos de Hugo Chávez ou de Evo Morales.
Logo há um reequilíbrio ideológico que terá necessariamente de verificar-se, sob pena de o consenso das sociais-democracias , que 30 anos passados trouxe o país à mais absoluta e manifesta falência técnica, persistir pelos próximos 30.
É tempo de inovar ideologicamente e de enterrar os fantasmas do passado!

3 comentários:

naifa disse...

Quo Vadis!?

El Torero disse...

Caro Fritz,

Apenas um singelo comentário:
com o aumento do desemprego, a radicalização do discurso também acontecerá à direita, fomentando o ódio pelos imigrantes.

fritzthegermandog disse...

Caro torero:

tal é sempre uma possibilidade... contudo não me apercebi de nenhum partido político que até ao momento o tenha feito...