terça-feira, 20 de setembro de 2005

O GUIÃO DA POLITICA PORTUGUESA

Quem me sabe dizer quem é o guionista da politica portuguesa? Se o conhecerem, digam-lhe para trocar os guiões dos dois maiores partidos portugueses.
Estou farto de os ver a trocar de papeis e a seguir sempre os mesmos guiões!

A redundância é tanta, que consigo elaborar um guião sintético da legislatura. Aqui vai:

Prólogo:
A comissão N que averigua o Acidente de Sá Carneiro, chega à conclusão que existem resíduos de explosivos nos destroços do aparelho.

Primeiro Ano:

Capítulo I
Um dos partidos (não interessa qual) ganha as eleições. No discurso da vitória, o presidente do partido afirma que os portugueses não se vão arrepender da opção. Partido derrotado, agora na oposição, convoca Congresso Extraordinário, para definir rumo a seguir. Começa a lavagem de roupa suja.

Capítulo II
Presidente do partido é convidado formalmente a formar governo. Nesse momento, afirma que vai juntar o melhor da sociedade civil e politica portuguesa.

Capítulo III
Governo toma posse. Aparecem antigos ministros, os de sempre, do partido vencedor e apenas alguns independentes. Os melhores não aparecem.
Oposição critica Governo agora empossado dizendo que o PM, não conseguiu reunir à sua volta, as individualidades que pretendia. Um claro sinal de desconfiança politica.
De qualquer modo dá ainda o benefício da dúvida.

Capítulo IV
São nomeados, aproximadamente, 2000 “boys” do partido no governo. Oposição diz que é inadmissível. PM responde, dizendo que, estes, durante a sua governação, nomearam mais “boys” do que o governo actual. Oposição responde dizendo que realmente o fez, mas somando os quatro anos da Legislatura.

Capítulo V
Eleito novo Presidente do partido na oposição, que refere, no seu discurso de tomada de posse, que os sinais económicos estão piores do que há um ano. PM afirma que isso são reflexos da política irresponsável do governo anterior.

Segundo ano:

Capítulo VI
Governo comemora primeiro ano, apontando as metas alcançadas que ninguém se lembra de terem sido anunciadas no programa.

Capítulo VII
Jornal denúncia eventuais comportamentos incorrectos de um qualquer Ministro (M) ou Secretário de Estado (SE). Oposição pede demissão do M ou SE em causa. PM reafirma o seu total apoio à pessoa visada.

Capítulo VIII
Tragédia no país. PM criticado por não ter abdicado do período de férias, para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.

Capítulo IX
Ministro sobre o qual incidiam rumores de comportamentos incorrectos, demite-se. PM diz que houve uma perseguição política ao antigo ministro e nomeia para o seu lugar um membro do partido, já ministro num anterior governo, e de quem ninguém já se lembrava.

(INTERVALO)

1 comentário:

ASP disse...

Não restam, de facto, muitas dúvidas: vivemos numa profunda crise de regime!
Mas, pior, não se vislumbram sinais positivos que nos permitam conjecturar que tal crise possa vir a ser debelada ou, pelo menos, mitigada.
Isto apesar das fortes expectativas depositadas por muitos portugueses na eleição do Governo actualmente em funções.
Com efeito, este Governo e, muito especialmente, este Primeiro Ministro, num relativamente curto período de tempo, destruíram, por completo, todo o capital de esperança que lhes foi creditado, arrazando todas as legítimas expectativas e anseios de muitos dos seus eleitores.
Para terminar, duas interrogações:
1) Será ainda possível acreditar que este Governo não destruirá aquela que muitos consideram ser a «última oportunidade da III República»?
2) E, em caso de insucesso, poderá estar na forja uma mudança de regime?